Esboço
Hoje quero lhe ajudar a ver lógica na presença dos EUA na profecia de Apocalipse 13:11-18. Fazendo uso do método historicista de interpretação, estudiosos adventistas identificam tal país como sendo a “segunda besta” de Apocalipse 13, aquela que “emerge da terra” e se une à “primeira besta” que “emerge do mar” (Ap 13:1)- o papado – para apoiá-la em sua contrafação à adoração ao verdadeiro Deus (Ap 13:11-18; Ap 14:6-7).
Segundo tal interpretação, no futuro o papado e os EUA se darão as mãos, promovendo novamente a união entre Igreja e Estado. Do mesmo modo que ao longo da história essa união se mostrou prejudicial – pois perseguições passaram a ocorrer contra os supostos “hereges” – tal aliança entre papado e EUA abrirá o caminho para uma nova perseguição realizada através de um decreto de morte (Ap 13:15) e do boicote econômico (Ap 13:16-17) daqueles que não aceitarem o “sinal” ou a “marca” da autoridade da primeira besta.
Começaremos com a leitura de Apocalipse 13:16-17:
“A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhes seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tem a marca, o nome da besta ou o número do seu nome”.
Você pode estar pensando que isso é uma “tremenda bobagem” porque os EUA não apoiam a união entre igreja e estado, fato evidenciado na Constituição norte-americana que garante o direito de liberdade religiosa.
Porém, quero lhe mostrar que esse quadro pode mudar e, para isso, lhe darei três razões para considerarmos que os EUA podem sim ser o poder político representado pela “segunda besta” de Apocalipse 13 que por fim apoiará à primeira besta no estabelecimento de suas crenças.
1. Razão geográfica para a presença dos EUA em Apocalipse 13:
“Via ainda outra besta emergir da terra; possuía dois chifres, parecendo cordeiro, mas falava como dragão” (Ap 13:11).
Uma vez que “mar” representa “povos, multidões, nações e línguas” de acordo com Apocalipse 17:15, podemos presumir que “terra” simboliza uma região pouco povoada.
“A nação assim designada não surgiria por meio de guerra, conquista e ocupação, mas se desenvolveria e chegaria à grandeza em uma região pouco povoada. Os comentaristas adventistas veem nesta segunda besta um símbolo dos EUA […] Quando a primeira besta (papado) foi para o cativeiro em 1798 [como apontado pela profecia dos 1.260 anos em Daniel 7:25 e em Apocalipse 12:6), os EUA cresciam em importância e poder. A nação não surgiu no velho mundo, densamente povoado, mas no novo mundo, que ainda constava relativamente, com poucos habitantes”. [1]
Os “dois chifres” dessa besta que “emerge da terra” podem representar duas características notáveis de governo norte-americano: a liberdade civil e religiosa, ambas garantidas pela Constituição dos Estados Unidos. [2]
2. Razão Histórica para a presença dos EUA em Apocalipse 13:
“[…] possuía (a besta) dois chifres, parecendo cordeiro…” (Ap 13:11)
Já ao comparar essa “segunda besta” a um “cordeiro”, a profecia nos mostra que no início de sua história, os EUA não tinha (e não tem) atitude de oposição contra qualquer religião e crença. A principal preocupação dos colonos britânicos no novo mundo era viver em paz, colocar em ordem a própria vida e prover refúgio para os oprimidos de tantas nações. [3]
Vê-se que os EUA mais uma vez se enquadram melhor nessa descrição profética por causa de sua postura original de ser favorável à religião e à liberdade de crença.
3. Razões Políticas para a presença dos EUA em Apocalipse 13:
“Vi outra besta emergir da terra; possuía dois chifres, parecendo cordeiro, mas falava como dragão. Exerce toda a autoridade da primeira besta [papado] na sua presença. Faz com que a terra e os seus habitantes adorem a primeira besta, cuja ferida mortal fora curada […] e lhe foi dado comunicar fôlego à imagem da besta, para que não só a imagem falasse, como ainda fizesse morrer quantos não adorassem a imagem da besta. A todos, os pequenos e os grandes, os ricos e os pobres, os livres e os escravos, faz que lhe seja dada certa marca sobre a mão direita ou sobre a fronte, para que ninguém possa comprar ou vender, senão aquele que tem a marca, o nome da besta ou o número do seu nome” (Ap 13.11-12; 15-17).
Perceba que o caráter de cordeiro e de um país protestante que respeita a liberdade religiosa será mudado: falará como dragão e irá perseguir, como lemos em Apocalipse 13:11: “Vi ainda outra besta emergir da terra; possuía dois chifres, parecendo cordeiro, mas “falava como dragão”.
Atualmente os EUA é um país maravilhoso, abençoado por Deus e que mantém os princípios de liberdade garantidos pela constituição. Porém, quando crises econômicas, políticas, religiosas e morais se intensificarem no cenário mundial, as coisas serão diferentes, e esse poder falará como dragão fazendo qualquer coisa que estiver ao seu alcance para tentar “melhorar” a condição econômica, política, religiosa e moral do mundo.
Quer provas possuímos de que a liberdade religiosa poderá acabar nos EUA, e que ocorrerá uma união entre igreja e Estado? Veja as declarações a seguir de líderes religiosos que têm inclusive influência política:
- Pat Robertson: “Não existe isso [separação entre Igreja e Estado] na Constituição. É uma mentira da esquerda, e não vamos mais tolerá-la”.
- F. James Kennedy: “Não há dúvida de que podemos testemunhar a queda, não só do muro de Berlim, mas do ainda diabólico muro de separação que tem levado à secularização, impiedade, imoralidade e corrupção em nosso país”.
- W. A. Criswell: “Não existe algo como separação entre igreja e Estado. É meramente uma ficção imaginária dos incrédulos”.
- Francis Schaeffer: “Hoje a separação entre igreja e Estado nos Estados Unidos é usada para silenciar a igreja”. [4]
Perceba que um segmento significativo de líderes religiosos norte-americanos é hostil à separação entre igreja e Estado. E se a oposição deles continuar a crescer, com certeza a união entre ambos é algo perfeitamente viável, levando a uma mudança na legislação e jurisprudência norte-americana.
Isso está abrindo caminho para que sejam promulgadas leis obrigatórias nos Estados Unidos. Veja o que alguns dos autores já citados disseram:
- D. James Kennedy: “Nossa tarefa é recuperar os Estados Unidos para Cristo, qualquer que seja o custo. Como representantes de Deus, devemos exercer domínio e influência piedosos sobre […] todos os aspectos e instituições da sociedade humana”.
- Paul Weyrich: “Estamos falando sobre cristianizar os Estados Unidos. Devemos simplesmente propagar o evangelho num contexto político” (Grifos acrescidos).
- Francis Schaeffer: “O governo civil e, portanto, a lei, precisam estar baseados na lei de Deus dada na Bíblia. O estado deve ser administrado de acordo com os princípios da lei de Deus”. [5]
Há coisas boas nessa proposta, porém, a ênfase está errada e pode facilmente levar à intolerância para com aqueles que discordam dessa e outras ideias. Por exemplo, se o domingo se tornar o dia obrigatório de adoração cristã para atender aos interesses do papado e das demais organizações religiosas e políticas, os observadores do sábado terão dificuldades com uma provável lei dominical.
Vemos também nessas citações uma uma forte ênfase na reforma moral da sociedade nos EUA. Anos atrás, Ellen White disse que a reforma moral da sociedade norte-americana seria um dos argumentos apresentados pelos líderes protestantes para apoiarem uma lei dominical nacional. Ela disse que esses líderes religiosos iriam alegar que “a corrupção que rapidamente se alastra é atribuível em grande parte à profanação do descanso dominical, e que a imposição da observância do domingo melhoraria grandemente a moral da sociedade”. [6]
Alguns líderes políticos cristãos estão insistindo nesse argumento. Em seu livro Por Que os Dez Mandamentos Importam [em inglês, Why the Ten Commandments Matter] D. James Kennedy escreveu:
“Os cristãos precisam comprender que observar o dia de descanso [domingo] na verdade cria um clima mais moral em nossa cultura. Promove uma conscientização de que Deus e Seus caminhos e leis são importantes para todos nós […] A partir do testemunho da igreja primitiva, do testemunho de nossa vida desordenada e do testemunho de nossa sociedade que cambaleia à beira do colapso moral, vemos que a necessidade do dia de repouso é verdadeiramente urgente”. [7]
Percebeu? Há um perigo nesse interesse de melhorar a moralidade pública por meio do estabelecimento de leis religiosas com as quais outros grupos não concordem. Portanto, é perfeitamente viável (e lógico) o Congresso dos Estados Unidos legalizar o domingo como dia de descanso para atender aos interesses da maioria, contrariando assim o quarto mandamento que ensina a observância do sábado como sinal da autoridade de Deus sobre nossa vida (cf. Gn 2:1-3; Êx 20:8-11; Ap 14:7, 12).
Em sua carta apostólica Dies Domini publicada em 31 de maio de 1998, João Paulo II convida os governos a protegerem o domingo como dia de descanso e adoração. Mais uma vez pode-se ver que há um interesse tanto da parte de protestantes quanto de católicos em promover o domingo como dia da de guarda e dia da família. Na visão de muitos, isso poderia até mesmo contribuir para a conscientização ecológica. Afinal, guardando o primeiro dia da semana a humanidade ficaria um dia sem consumir os recursos naturais , dando descanso à natureza e preservando assim o meio ambiente.
Em uma conferência ocorrida em 2005, patrocinada pelo Conselho Judaico-cristão para a Restauração Constitucional, o rabino Aryeh Spero “assumiu a atitude incomum de lutar por um dia de descanso cristão, dizendo à multidão: ‘Eu sugeriria que instituamos novamente o dia de descanso, o domingo, como era antes. Façam do dia de domingo um dia de fé”. Nesse contexto, Spero estava exigindo leis – talvez até uma emenda constitucional – que tornasse o domingo um dia de descanso religioso e adoração. [8]
No final do século 19 Ellen G. White fez uma declaração significativa. Ela disse que, “mesmo na livre América do Norte, governantes e legisladores, a fim de conseguir o favor do público, cederão ao pedido popular de uma lei que imponha a observância do domingo”. [9]
Já no livro Eventos Finais, p. 131, ela escreveu:
“Quando as principais igrejas dos Estados Unidos, ligando-se em pontos de doutrinas que lhes são comuns, influenciarem o Estado para que imponha seus decretos e lhes apoie as instituições, a América protestante terá então formado uma imagem da hierarquia romana, e a inflição de penas civis aos dissidentes será o resultado inevitável”.
Á luz desses dados, você pode até não acreditar ainda, mais já pode considerar a possibilidade dessa interpretação estar certa, estudar mais e esperar em oração o desdobramento dos os acontecimentos finais, enquanto se prepara para a volta de Cristo.
Nos vídeos que preparei sobre o assunto, você terá a indicação de alguns livros com os quais poderá se aprofundar no estudo de Apocalipse 13. Prepare-se porque o Senhor está voltando: “Aquele que dá testemunho destas coisas diz: Certamente, venho sem demora. Amém! Vem, Senhor Jesus!” (Ap 22:20).
Notas e Referências
[1] Vanderlei Dorneles, ed. Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, vol. 7 (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2014), p. 907. Grifo acrescido
[2] Veja-se Vanderlei Dorneles, O Último Império: A Nova Ordem Mundial e a Contrafação do Reino de Deus (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2012), p. 40.
[3] Dorneles, Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, vol. 7, p. 907.
[4] Citado em Marvin Moore, Apocalipse 13: Leis Dominicais, Boicotes Econômicos, Decretos de Morte, Perseguição Religiosa… Isso Pode Realmente Acontecer? (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013), p. 203-204.
[5] Ibid., p. 208-209. Grifos acrescidos.
[6] Ellen G. White, O Grande Conflito (Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2001), p. 587.
[7] D. James Kennedy, Why the Ten Commandments Matter (Nova York: Warner Faith, 2005), p. 81-82.
[8] Moore, Apocalipse 13, p. 212.
[9] White, O Grande Conflito, p. 592.