A profecia bíblica tem despertado o interesse de estudiosos e cristãos ao longo dos séculos, especialmente no que diz respeito aos acontecimentos do tempo do fim. Um dos textos mais enigmáticos e discutidos é Apocalipse 13, que descreve duas bestas — uma que emerge do mar e outra que surge da terra. A identificação dessas figuras proféticas é essencial para compreender o cenário profético global.
Neste artigo, vamos explorar por que muitos intérpretes da linha historicista, especialmente os adventistas do sétimo dia, compreendem que a segunda besta de Apocalipse 13 representa os Estados Unidos da América. Faremos isso de forma lógica, fundamentada em textos bíblicos, contextos históricos e declarações atuais de líderes religiosos. O objetivo é mostrar que, apesar de parecer improvável à primeira vista, há uma base sólida para essa interpretação.
A Profecia da Segunda Besta: Uma Análise Geográfica
O texto de Apocalipse 13:11 apresenta uma segunda besta que emerge da “terra”, em contraste com a primeira besta, que surge do “mar”. De acordo com Apocalipse 17:15, o mar simboliza povos e nações densamente povoados. Por dedução, a terra representa uma região escassamente habitada, onde surgiria um novo poder político sem recorrer à conquista militar.
Esse cenário encaixa-se perfeitamente com o surgimento dos Estados Unidos no chamado “Novo Mundo”. Enquanto o papado enfrentava seu declínio temporário no final do século XVIII (1798), os EUA despontavam como uma nova potência global, com base em princípios inéditos até então: liberdade religiosa e civil, representadas simbolicamente pelos “dois chifres como de um cordeiro” (Ap 13:11). Essas características formam a espinha dorsal da Constituição americana.
A Aparência de Cordeiro e a Mudança de Discurso
Apesar de se parecer com um cordeiro — símbolo de mansidão e, em termos bíblicos, uma referência a Cristo — essa segunda besta fala “como dragão”. Isso aponta para uma transição alarmante: o país, inicialmente defensor da liberdade, acabará assumindo uma postura de intolerância religiosa e perseguição.
Historicamente, os colonos que fundaram os EUA buscavam exatamente a liberdade religiosa que lhes era negada na Europa. No entanto, a profecia indica que essa nação mudará sua postura com o tempo, adotando medidas coercitivas que refletirão os métodos do dragão — símbolo de Satanás (Ap 12:9).
A segunda besta de Apocalipse 13
Apocalipse 13 nos apresenta duas bestas proféticas. A primeira surge do mar, símbolo de povos e nações (Ap 13:1; cf. Ap 17:15). A segunda, no entanto, se levanta da terra (Ap 13:11), um território que, ao contrário do mar, representa um lugar relativamente despovoado, tranquilo, livre de grandes conflitos ou multidões de povos.
E é justamente essa segunda besta que merece nossa atenção aqui. João descreve assim:
"Vi ainda outra besta emergir da terra; possuía dois chifres, parecendo cordeiro, mas falava como dragão" (Apocalipse 13:11).
Esse poder representa um país que surgiria em contraste com as potências anteriores. Ele se eleva em um território onde não havia grandes nações, durante o período em que a primeira besta (o papado) recebia sua ferida mortal (Ap 13:10), por volta de 1798.
Apenas uma nação cumpre com precisão essas características: os Estados Unidos da América.
As evidências proféticas apontam para os EUA
1. Surge da terra – O território americano estava relativamente desabitado (em relação a outras partes do mundo) quando começou a emergir como nação.
2. Surgimento ao redor de 1798 – Os EUA declararam independência em 1776, adotaram a constituição em 1789 e foram reconhecidos como potência global logo após 1798. Isso coincide com o momento em que a primeira besta recebeu sua ferida mortal.
3. Dois chifres como de cordeiro – Os chifres representam princípios de poder civil e religioso separados: liberdade civil (republicanismo - sem monarquia, sem rei) e liberdade religiosa (protestantismo - sem domínio papal). Ambas são bases do sistema americano.
4. Fala como dragão – Embora comece com aparência de cordeiro, os EUA progressivamente adotam atitudes autoritárias, contrárias aos princípios cristãos, especialmente ao promover leis que atentam contra a liberdade religiosa e os mandamentos de Deus.
Uma profecia ainda em curso
A profecia de Apocalipse 13 afirma que essa segunda besta exercerá toda a autoridade da primeira besta na sua presença (Ap 13:12). Em outras palavras, os EUA exercerão influência mundial semelhante à do papado medieval, especialmente no campo religioso. Isso se concretiza quando os EUA impõem adoração e promovem a imagem da besta – um sistema religioso que une igreja e Estado, à semelhança do que ocorreu na Idade Média.
Além disso, a profecia menciona um sinal, conhecido como a marca da besta (Ap 13:16-17). Os EUA terão um papel central na imposição desse sinal, pressionando o mundo a seguir os decretos da primeira besta. Esse sinal está relacionado à adoração falsa e à rejeição dos mandamentos de Deus, especialmente do sábado bíblico (Êxodo 20:8-11).
A imagem da besta: o retorno do poder religioso sobre o civil
Formar uma “imagem da besta” significa reproduzir o modelo de união entre Igreja e Estado que existiu sob o papado. Quando as igrejas protestantes, nos EUA, se unirem ao poder civil para impor suas doutrinas religiosas, estarão criando essa imagem. Assim, o país que nasceu promovendo liberdade de consciência se transformará no oposto: um poder perseguidor.
Ellen White comenta com clareza:
“Quando as igrejas principais dos Estados Unidos se unirem em pontos de doutrina que lhes são comuns e influenciarem o Estado a impor seus decretos e apoiar suas instituições, então a América protestante terá formado uma imagem da hierarquia romana” (O Grande Conflito, p. 445).
A marca da besta e o número 666: um alerta profético sobre adoração e autoridade
Apocalipse 13 encerra sua descrição profética com uma advertência solene: virá o tempo em que todos, “pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e escravos” serão obrigados a aceitar uma marca na mão direita ou na testa (Ap 13:16). Aqueles que se recusarem enfrentarão boicotes econômicos e perseguição. O texto prossegue: “Aqui está a sabedoria: aquele que tem entendimento calcule o número da besta, porque é número de homem. Ora, esse número é 666” (v. 18).
Ao longo da história cristã, esse número tem gerado especulação. No entanto, à luz do próprio Apocalipse, a ênfase não está apenas no valor numérico, mas no sistema de autoridade religiosa que se opõe à soberania de Deus. A marca da besta representa um símbolo de lealdade a um poder humano que usurpa a adoração devida somente ao Criador — enquanto o selo de Deus (Ap 7:2-3; 14:1) representa a obediência voluntária à Sua vontade.
O número 666, ao ser descrito como “número de homem”, indica uma religião centrada no ser humano, não em Deus. É o contraste direto com o chamado à adoração do Criador, visto na mensagem do primeiro anjo (Ap 14:7). A profecia alerta, portanto, para um conflito final entre duas formas de adoração: uma baseada na tradição humana, outra na fidelidade à Palavra de Deus.
Conclusão
O Apocalipse não é apenas um livro de símbolos misteriosos, mas uma mensagem viva e urgente. Ele nos convida a examinar cuidadosamente em quem colocamos nossa confiança, quem seguimos e a quem adoramos. Quando alianças religiosas e políticas impõem normas contrárias à liberdade de consciência e à verdade bíblica, o cenário descrito em Apocalipse 13 se torna mais relevante do que nunca.
Mais do que temer o futuro, somos chamados a compreender os princípios que governam a verdadeira adoração e a liberdade religiosa. Ao fazer isso, estaremos preparados — não por pânico, mas por convicção — para escolher a quem prestaremos obediência. O livro do Apocalipse nos encoraja: mesmo em meio à pressão de poderes globais, é possível permanecer fiel aos princípios de justiça, verdade e liberdade que emanam do Deus Criador.
Referências:
Constituição dos Estados Unidos, Primeira Emenda. Disponível em: https://constitution.congress.gov/constitution/amendment-1/
The Catholic Mirror, 1893. Citado em diversas obras adventistas, como O Conflito dos Séculos, de Ellen G. White.
Catecismo da Igreja Católica, parágrafos 2168–2195. Disponível em: https://www.vatican.va/archive/ENG0015/__P7O.HTM
James Gibbons, The Faith of Our Fathers, 1917. Citação: “You may read the Bible from Genesis to Revelation, and you will not find a single line authorizing the sanctification of Sunday...”. Disponível em: https://archive.org/details/TheFaithOfOurFathers
Ellen G. White, O Grande Conflito, capítulo 35 – A Liberdade de Consciência Ameaçada. Disponível em: https://egwwritings.org/?ref=GC.564&lang=pt
Papa Francisco, Laudato Si’, parágrafo 237. Encoraja o repouso dominical como parte do cuidado com a criação. Disponível em: https://www.vatican.va/content/francesco/pt/encyclicals/documents/papa-francesco_20150524_enciclica-laudato-si.html