sábado, 17 de maio de 2025

O que a Bíblia diz sobre o vinho? Jesus aprovava bebidas alcoólicas?



Introdução

A discussão sobre o uso de vinho na Bíblia, especialmente nos episódios das bodas de Caná e da Santa Ceia, levanta uma pergunta essencial: Jesus aprovaria o consumo de bebidas alcoólicas? Muitos argumentam que, se Ele transformou água em vinho e o ofereceu na Ceia, então o vinho fermentado é aceitável. Mas será isso mesmo?

Neste artigo, vamos examinar o que a Bíblia diz sobre o vinho — analisando os termos originais em hebraico e grego — e esclarecer se o vinho bíblico era sempre alcoólico ou não. Também abordaremos por que é perigoso usar “achismos” para justificar escolhas que contrariam os princípios bíblicos.


1. A Bíblia se contradiz quando fala de vinho?

À primeira vista, a Bíblia parece ambígua sobre o vinho. Por exemplo:

Em Salmo 104:15, o vinho alegra o coração.

Mas em Provérbios 20:1, é motivo de zombaria e desgraça.

A razão dessa aparente contradição está no uso genérico da palavra "vinho" em português, que não distingue entre suco de uva fresco e vinho fermentado.

Para compreender a mensagem bíblica com precisão, precisamos ir às línguas originais — hebraico e grego — que possuem termos específicos com diferentes significados e implicações morais.


2. Termos hebraicos e sua aplicação nos contextos bíblicos

Tirosh (תִּירוֹשׁ): refere-se ao suco de uva novo, fresco, não fermentado. É o “vinho” prometido como bênção nas colheitas (Provérbios 3:10; Joel 2:24).

Importante: nunca está ligado à embriaguez ou condenação.

Aplicação: Quando a Bíblia fala da fartura da terra e da bênção de Deus com "tirosh", está falando do suco puro da videira, e não de bebida alcoólica.

Yayin (יַיִן): termo mais comum, pode significar vinho fermentado ou não, dependendo do contexto. Pode alegrar o coração (Salmo 104:15), mas também levar à destruição (Provérbios 23:29-35).

Aplicação: Quando Jesus cita "vinho" na Ceia, o termo grego equivalente usado é "oinos", que carrega a mesma ambiguidade de "yayin". Isso nos força a olhar para o contexto ritualístico e simbólico.

Shekar (שֵׁכָר): bebida forte, fermentada, semelhante a cerveja ou destilados. Sempre com conotação negativa (Levítico 10:9; Provérbios 31:4-5).

Aplicação: A Bíblia proíbe claramente seu uso entre sacerdotes e pessoas consagradas — o que inclui os seguidores de Cristo em nosso chamado sacerdotal (1 Pedro 2:9).


3. Termos gregos e o vinho do Novo Testamento

Oinos (οἶνος): termo genérico, como "yayin". Usado em João 2 (bodas de Caná) e nos relatos da Santa Ceia. Pode ser suco fresco ou fermentado — o contexto é o que determina.

Aplicação em João 2:

Jesus transforma água em “oinos”.

Nada no texto diz que era alcoólico.

Como o milagre acontece instantaneamente, não haveria tempo para fermentação natural.

Além disso, Jesus não criaria uma substância fermentada durante uma celebração santa, correndo o risco de induzir alguém à embriaguez.

O mestre-sala elogia a qualidade, não a fermentação — vinho novo, fresco, é naturalmente mais saboroso.

Gleukos (γλεῦκος): mosto fresco, suco de uva doce, recém-espremido. Usado em Atos 2:13, quando zombam dos apóstolos dizendo que estavam cheios de "gleukos".

Aplicação: Mostra que havia distinção entre vinho fermentado e não fermentado no pensamento dos judeus e gregos.

Sikera (σίκερα): bebida forte, semelhante a shekar. Em Lucas 1:15, é dito que João Batista não beberia sikera nem vinho — uma dupla ênfase na abstinência.

Aplicação: João, como profeta consagrado, era separado até mesmo do “oinos”. Jesus afirmou que entre os nascidos de mulher, ninguém era maior do que João (Lucas 7:28). Seu exemplo de sobriedade não pode ser ignorado.


4. A Ceia e a Páscoa: um símbolo sem fermento

A última Ceia foi celebrada durante a Páscoa. E, conforme Êxodo 12:15-20, nenhum fermento podia estar presente na casa do israelita.

O fermento é símbolo do pecado (Lucas 12:1; 1 Coríntios 5:6-8).

O pão era ázimo, sem fermento.

Logo, o vinho também não poderia ser fermentado, pois representava o sangue puro de Cristo, sem corrupção.

Jesus, o Cordeiro de Deus, não teria usado um elemento corrompido para representar Sua vida imaculada.


5. A raiz do problema: “eu acho” ou “Deus disse”?

Muitos defendem o uso de bebidas alcoólicas com base em achismos:

Eu acho que beber moderadamente não tem problema...”

“Eu acho que o vinho de Jesus era fermentado...”

Mas essas afirmações costumam refletir uma tentativa de justificar um desejo pessoal — e não um compromisso sincero com a verdade bíblica.

Paulo já previa esse comportamento:

“Amontoarão para si doutores conforme as suas próprias concupiscências” (2 Timóteo 4:3).

Ou seja, em vez de mudar de vida à luz da Palavra, alguns preferem reinterpretar a Palavra à luz do seu estilo de vida.


6. Chamados à sobriedade e pureza

A Bíblia chama os crentes à sobriedade (Tito 2:11-12), domínio próprio (Gálatas 5:22-23) e separação do mundo (Romanos 12:2).

Paulo diz:

“Tudo me é lícito, mas nem tudo convém” (1 Coríntios 10:23).

E ainda:

“Não vos embriagueis com vinho, em que há contenda, mas enchei-vos do Espírito” (Efésios 5:18).

A pergunta final não é “posso beber?”, mas “isso glorifica a Deus?”


7. E o conselho de Paulo a Timóteo?


“Não continues a beber somente água, mas usa um pouco de vinho, por causa do teu estômago e das tuas frequentes enfermidades.” (1 Timóteo 5:23)

Este verso é muitas vezes usado para tentar legitimar o consumo de vinho alcoólico. No entanto, o contexto deixa claro que Paulo está orientando Timóteo a fazer uso medicinal de uma substância conhecida por suas propriedades terapêuticas — muito provavelmente um suco de uva conservado, diluído, ou levemente fermentado, utilizado para tratamento estomacal numa época sem recursos farmacêuticos modernos.

Alguns pontos importantes:

O conselho não é para uso recreativo, mas por causa de enfermidades.

A palavra grega usada aqui é "oinos", o termo genérico que já vimos. Novamente, o contexto determina o significado.

O próprio Timóteo, até então, abstinente, precisava ser incentivado por Paulo a fazer uso da substância, o que reforça sua postura de sobriedade e cautela.

Usar esse verso como desculpa para consumo social ou habitual de álcool é distorcer completamente a intenção da Escritura.


Conclusão: Que tipo de vinho Jesus aprovava?

Quando analisamos:

os termos bíblicos em hebraico e grego,

o contexto ritual da Páscoa,

a natureza simbólica da Ceia,

o padrão de vida santo de Cristo,

…chegamos à conclusão clara de que Jesus não aprovava, produzia nem consumia bebida alcoólica.

Ele é o “sumo sacerdote santo, inocente, imaculado” (Hebreus 7:26), e os símbolos que usou refletem essa pureza.

O vinho de Cristo é o fruto puro da videira — sem fermento, sem pecado, sem escândalo.


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