Introdução
Nos últimos anos, tem crescido entre os adventistas um movimento chamado "Momentos a Sós com Cristo" (MASCC). Seus defensores alegam que a prática fortalece o relacionamento com Jesus por meio de momentos silenciosos e pessoais, em que o participante fala da própria vida com Cristo sem pedidos ou agradecimentos. Contudo, à luz da teologia adventista, essa proposta levanta sérias preocupações. Este artigo apresenta uma comparação entre essa prática e a "Lectio Divina", uma forma de leitura orante das Escrituras originada no misticismo católico medieval.
O que é o MASCC
O MASCC propõe que a oração seja feita de forma particular, sem pedidos ou agradecimentos, com o objetivo de apenas "compartilhar a vida" com Jesus. Seus praticantes afirmam que esse tipo de oração promove intimidade e amizade com Cristo. Alguns líderes do movimento afirmam ainda que a Bíblia não é a única Palavra de Deus, dando abertura para que revelações internas e sentimentos pessoais tenham a mesma autoridade da Escritura.
O que é a Lectio Divina
A Lectio Divina é uma prática contemplativa católica, surgida nos mosteiros da Idade Média. Ela envolve quatro passos: lectio (leitura), meditatio (meditação), oratio (oração) e contemplatio (contemplação). Seu objetivo é levar o praticante a "ouvir a voz de Deus" através de uma experiência subjetiva, muitas vezes desassociada da exegese bíblica e da compreensão racional do texto. Essa prática está intimamente ligada ao misticismo católico, com ênfase em experiências espirituais subjetivas.
Comparação entre MASCC e Lectio Divina
O Perigo Doutrinário
O MASCC, assim como a Lectio Divina, enfraquece a doutrina adventista das Escrituras Sagradas (Crença Fundamental #1), que afirma:
"As Escrituras são a revelação infalível de Sua vontade. São a norma do caráter, a prova da experiência, a autorizada revelação das doutrinas e o registro fidedigno dos atos de Deus na História." (Crenças Fundamentais da IASD, #1)
Quando sentimentos pessoais são colocados em pé de igualdade com a Bíblia, abre-se espaço para o misticismo, o subjetivismo e até mesmo o engano espiritual. A oração bíblica inclui súplicas, agradecimentos, intercessões e confissões (Filipenses 4:6; Salmo 51; Mateus 6:9-13). Jesus nunca ensinou a orar sem pedir ou agradecer. Pelo contrário, Ele nos ensinou a confiar no Pai com petições claras e submissas.
A perigosa ideia de “ouvir a voz de Deus”
Uma das afirmações mais problemáticas do movimento Momentos a Sós com Cristo é a de que, com o tempo, o praticante passaria a “ouvir a voz de Deus” diretamente, como afirma o criador desse movimento, o Alcênio Elpídio, e também seus seguidores, chegando a experimentar uma espécie de teofania pessoal. Essa concepção é perigosa, pois confunde o testemunho do Espírito Santo com revelações sensoriais ou místicas. A Bíblia ensina que “Deus, tendo outrora falado muitas vezes e de muitas maneiras aos pais, pelos profetas, a nós falou-nos nestes últimos dias pelo Filho” (Hebreus 1:1-2). A revelação divina já foi plenamente manifestada em Cristo e registrada nas Escrituras. Qualquer pretensa nova “voz” ou “revelação” precisa ser provada pela Palavra (Isaías 8:20).
Jesus advertiu que Seus verdadeiros discípulos ouvem a Sua voz quando permanecem em Sua Palavra (João 10:27; João 8:31-32), não por meio de impressões subjetivas ou experiências místicas. O Espírito Santo fala ao coração humano por meio da mente iluminada pela Escritura (João 16:13), e não por sensações, vozes interiores ou teofanias pessoais. A fé bíblica é racional e fundamentada na Palavra escrita, não em percepções emocionais.
Um Obstáculo à Missão
Outro aspecto preocupante é que onde esse movimento tem se espalhado, não há evidências de crescimento da missão evangelística. Ao contrário, igrejas se tornam introspectivas, emocionalizadas e cada vez menos envolvidas na proclamação das três mensagens angélicas. Isso se afasta do chamado profético da Igreja Adventista do Sétimo Dia.
Conclusão
O MASCC se aproxima perigosamente da Lectio Divina católica em sua forma e essência. Ambas as práticas promovem experiências espirituais subjetivas que tendem a relativizar a autoridade das Escrituras. A Igreja Adventista do Sétimo Dia, como movimento profético, deve manter-se firme sobre a Bíblia como única regra de fé e prática, e sobre a oração como diálogo reverente com Deus — com súplicas, ações de graças e submissão à Sua vontade. O verdadeiro relacionamento com Cristo se dá pela obediência à Sua Palavra (João 15:14), e não por práticas que buscam comunhão mística à parte da verdade revelada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário